(2012) - Livro Borda a Vida

Em 2001, após muitas tentativas frustradas de alfabetizar mães e crianças hospedadas na ACTC, acabamos por formular duas questões para não mais fracassarmos:
1) Onde estamos errando?
2) Será que mães e crianças em condição de fragilidade como essa não são capazes
de aprender?

O fato é que em 2000 havíamos inaugurado nossa primeira sede, reformada e adaptada para atender às necessidades de hospedagem e alimentação de maneira mais apropriada, e passamos a disponibilizar 28 vagas em vez das dezesseis do antigo imóvel alugado.

Assim, a questão de infraestrutura estava resolvida, pelo menos por um tempo. Era hora, portanto, de enfrentar o problema do baixo índice de letramento das crianças e das mães. Muitas vezes, as mães não entendiam as prescrições médicas ou a quantidade de remédio a ser administrada, e isso comprometia o tratamento. No entanto, mesmo diante dessa necessidade premente, não parecia haver receptividade por parte delas para participar das atividades de desenvolvimento de leitura.

Pior: percebemos que não tínhamos condições técnicas de responder às duas perguntas que nos fizemos.

Foi então que resolvemos chamar a assessoria externa da Escola Vera Cruz. Após seis meses, recebemos um diagnóstico: mães e crianças podem aprender, e muito, mesmo em condições adversas como as que vivenciavam naquele momento.

A partir daí, foram formatadas duas atividades: Brasileirinhos, para as crianças, e Maria Maria2 para as mães. A primeira continuou sendo assessorada pela Vera Cruz por mais três anos e meio, graças a uma parceria com o Instituto C&A. A segunda, que tomou os bordados como meio de reflexão e expressão, ficou a cargo da professora Cristina Macedo, que já a coordenava como assessora e foi contratada diretamente pela ACTC para desenvolvê-la.

De lá para cá, nem é preciso dizer, as mães responderam de forma positiva. Na pedra fundamental da ACTC, lançada em 2002 para a construção da nova sede, inaugurada em 2003, está inscrito: ?Quando nos solidarizamos no que a princípio não pode ser dito, rompemos a barreira da solidão e da morte, de coração para coração?. O bordado para nós é uma via régia por meio da qual somos resgatados, nosso coração partido é envolvido em cuidados e nossas perdas, de alguma forma, são recuperadas.

Cristina Macedo é a nossa maravilhosa guia por esses caminhos, e este livro, a expressão dessa caminhada, é uma homenagem a todos que participaram e participam da ACTC e a tornam o que ela é: uma casa de portas abertas.

DIRETORIA E EQUIPE DA ACTC

2 Dentro da atividade Maria Maria é realizado o Artesanato Maria Maria, uma parceria da ACTC com as mães que bordam. O objetivo é a geração de renda para as famílias, por meio da venda dos produtos no bazar da entidade.