(2019) - Calendário 2019

Com múltiplos simbolismos, as montanhas sempre fizeram parte da história da humanidade, sejam como locais associados a mitos e crenças, sejam por suas influências nas paisagens e no imaginário coletivo de diferentes culturas.   

As montanhas, formas naturais marcantes, dão sustentação a rios, flora e fauna. Provocam, com sua presença imponente e, por vezes, desafiadora, admiração ou temor. Tecidas culturalmente ao longo de gerações, essas percepções ambivalentes extrapolam sua existência física, conferindo identidade ao local em que estão inseridas. 

Com o intuito de partilhar saberes sobre a diversidade e a exuberância de nossas belezas naturais, as mães da ACTC - Casa do Coração, convidadas a capturar, com seu olhar sensível, a imponência, o mistério e o encanto das serras ou colinas de sua terra, reinventaram nos tecidos cenários idílicos. 

Lidando cotidianamente com a vulnerabilidade da vida, as nossas bordadeiras, ao tramarem as montanhas, símbolos de perenidade e firmeza, vão se fortalecendo e, no vai e vem da agulha, matizando cumes, reavivando contornos e aquarelando reentrâncias. Assim, criam momentaneamente um lugar de apaziguamento onde   podem assentar suas emoções. 

As montanhas, assim como as árvores e as torres das igrejas, simbolizam a postura vertical, a linha ascendente em direção ao céu, ao sagrado. Nossas bordadeiras, enquanto buscam um sentido para seguir adiante, apoiadas na dimensão do sublime, imprimem nos bordados a potência da criação. Em um exercício primoroso, revigora--se a natureza exuberante, eternizando e iluminando com o rococó o movimento contínuo das cachoeiras que descem dos altos cumes.

Reinventando lugares e tecendo a esperança, nossas bordadeiras gestaram criações singulares. Ao fortalecer volumes, preencher rupturas, tecer encostas e urdir perspectivas, fazem do bordado uma tentativa de arquitetar um mundo que valha a pena habitar.  As tramas transbordam sentimentos, emoções, beleza. As artistas constroem e desvendam a poética de seu olhar.