18/07/2024
DR. RESPONDE - Fiz a cirurgia de Fontan há mais de 15 anos e ultimamente tenho tido problemas no fígado. Existe alguma ligação?
A cirurgia de Fontan é procedimento paliativo que visa a restituir a circulação a um ideal dinâmico para poder manter seu funcionamento o mais adequado possível. Daí, consegue eliminar a hipoxemia sanguínea em cardiopatias cianogênicas cuja correção anatômica não seja possível, como no ventrículo único, nas atresias valvares tricúspide e mitral e na hipoplasi do coração esquerdo.
Neste princípio operatório de Fontan, as veias sistêmicas são desviadas do coração direito às artérias pulmonares e assim se tornam submetidas a um aumento de suas pressões normais, superiores
de 10 até 15 mmHg.
Essa pressão venosa maior em situação dinâmica crônica propicia o estabelecimento de circulação venosa mais lenta, com consequente congestão do aparelho gastrointestinal como fígado, baço e intestinos, além de fenômenos propícios de coagulação sanguínea alterada, com tromboses e embolias.
Por isso, as complicações desse novo sistema venoso ocorrem com o passar do tempo. No fígado, a congestão afeta seu funcionamento habitual, pela distorção de suas estruturas celulares que culminam com a progressão à cirrose hepática. Nos intestinos, afeta a absorção dos alimentos, advindo a hipoproteinemia e síndromes entéricas perdedoras de proteínas.
As prevenções dessas evoluções decorrem, primeiro, da boa indicação operatória, sem graus importantes de hipertensão pulmonar e com boa função ventricular cardíaca. Ademais da tomada adequada de medicamentos como diuréticos, vasodilatadores e anticoagulantes, além da conexão da circulação direita com a esquerda por pertuitos entre os dois átrios.
Esses quadros culminam, caso evoluam desfavoravelmente à necessidade de transplante cardíaco a fim de obter a restituição da dinâmica circulatória ideal.